Decepção


Um dia desses fui ao cinema, o filme que assisti foi Sem Limites (já comentei sobre ele para vocês).

E lembrei de que quando eu era menor e assistia aos filmes com meus pais, eles sempre inventavam de levar uma “marmitinha” de pipoca feita em casa. E eu, não seria diferente, MORRIA de vergonha. Agora, não faço algo muito diferente, e, sinceramente, não me orgulho disso mas também não me envergonho por isso.

Acontece que a pipoca do cinema, apesar de ser muito gostosa (mesmo minha pipoca de panela sendo muito boa -risos- nada se compara a pipoca amanteigada dos cinemas) é muito cara. Muito cara mesmo. E se eu pagasse R$20,00, no mínimo (fora o preço do ingresso, que também é olho da cara), por uma pipoca todas as vezes que eu for ao cinema, já estaria completamente falida e não sairia para lugar algum durante um bom tempo. Então, é óbvio que isso não acontece. Somente quando, no final do mês, ainda sobra alguma parte da minha mesada para gastar, penso em comer a deliciosa e cara pipoca de cinema.

Então, sempre que o dinheiro é escasso, compro algumas coisinhas nas Lojas Americanas para comer durante o filme. Sei que isso não é muito bonito de se ver e nem mesmo é correto de se fazer. Mas como eu já disse, tudo me leva a esse fato.

Mas é importante ressaltar, para você que gostou da ideia, que é preciso ser discreto. Por isso não chegue à bilheteria lotado de sacolas plásticas  contendo até mesmo refrigerante de dois litro. Ai já é demais. É não ter senso de ridículo. Uma dica:você, menina, leve uma bolsa um pouco maior e coloque a(s) sacolinha(s) dentro dela. Outra dica: Compre coisas pequenas, com cheiro agradável (evite chips com cheiro de chulé) e que não façam muito barulho ou chame muita atenção; ninguém quer ver você fazendo um piquinique barulhento/ fedorento enquanto come sua deliciosa pipoca. Última dica: espere até que o o filme comece (a espera é até boa, porque geralmente comemos tudo durante os trailer- por mais que se tente evitar-, e fazendo isso sua refeição dura muito mais tempo!), de preferência até alguma parte mais barulhenta, para então abrir o pacotinho do que você comprou, caso ele faça muito barulho. Pronto! Você conseguiu com pouco dinheiro, e sem chamar muita atenção, ter sua distração gastronômica necessária durante seu filme!

Voltando a minha história,

estava comprando meus lanchinhos para o filme que logo iria começar. Eis que um lindo brilho, algo parecido com uma luz divina, aparece sobre um pacotinho roxo. Olhei para aquilo e tentei lembrar de onde já tinha o visto. As sinapses demoraram um pouco para funcionar, mas quando o fizeram o sentimento era inigualável: aquele sabor de felicidade, aquele sabor de inocência, aquele sabor de infância, aquele sabor de catarse.
Vi uma das coisas que costumava ser uma das minhas favoritas durante minha infância.
Me lembrei de como era bom.
Me lembrei também que era muito raro conseguir que minha mãe comprasse aquilo para mim.
E eu percebi que naquele momento tudo dependia de mim. Dependia dos meus passos até ele.
Dependia das minhas mãos o apanhando.
Dependia do meu dinheiro o pagando.
Minha mãe não poderia dizer não. Eu diria sim e nada me impediria.
Corri até ele e agarrei-o com todas as minhas forças.
Aquelas borboletas no estômago logo apareceram.
Como era bom ser criança e poder adorar aquele pequeno e delicioso lanche.
Comprei. Guardei na grande bolsa (dessa vez não era a minha, graças a Deus a Bonnie tinha levado o tamanho necessário de conteiner). Esperei que o momento certo chegasse. Abri. Dei uma pequena mordida. Esperei que minhas sinapses mais uma vez agissem. E mais uma vez elas o fizera. Mas espera ai: cadê o sabor de felicidade, o sabor de inocência, o sabor de infância, o sabor de catarse? Isso aqui não tem nada disso. Cadê aquele sabor de chocolate e caramelo que derretiam na boca? Cadê o verdadeiro sabor do ex-incrível-maravilhoso-especial

Alfajor Turma da Mônica?Não pode ser ele. Ele costumava ser muito mais gostoso. O único sabor que esse tinha era de decepção.


Será que ele sempre foi assim só que eu era muito besta para perceber isso?

Será que, infelizmente, as fábricas mudaram a forma pela qual eles era fabricados, privando, assim, as crianças da nova geração do poderoso sabor do velho Alfajor Turma da Mônica?

Se for a primeira opção, fico mais aliviada, porque eu já sabia que na infância tudo é mais gostoso. Mas se for a segunda, fico realmente com raiva. Porque além de estragar a infância das novas crianças, que não poderão nunca conhecer o sabor delicioso que ele tinha, acabaram com a oportunidade de me trazerem lembranças de eu quando criança.

Espero, do fundo do meu coração, que seja mesmo a primeira.

p.s: Catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama. Vulgo: válvula de escape.

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